Brazil Potash faz nova ofensiva pelo potássio do Amazonas

O investidor Stan Bharti, chairman da Brazil Potash, desembarcou mais uma vez no Brasil na tentativa de fazer caminhar o projeto de extração de potássio da mina de Autazes, no Amazonas. Bharti, fundador do banco canadense Forbes & Manhattan, um dos acionistas do projeto, esteve no Rio nesta semana, durante a Conferência Latino-Americana de Fertilizantes, para conversar com potenciais clientes e investidores.

“Nossa expectativa é ter a licença de instalação necessária para iniciar a construção do projeto emitida neste ano”, disse ele ao Valor. Essa já era a expectativa da diretoria da empresa em 2022, mas o sinal verde tem esbarrado na atuação do Ministério Público Federal. Na avaliação de agentes do segmento, pode ser que no novo contexto político brasileiro o projeto enfrente ainda mais barreiras.

O processo de licenciamento ambiental está suspenso desde 2017, quando as partes envolvidas fizeram um acordo na Justiça para que o povo indígena Mura fosse ouvido. O trabalho de consulta aos indígenas está em curso.

A comercialização de potássio – sem tê-lo ainda extraído – é um passo que tem gerado curiosidade entre agentes setoriais desde que a companhia anunciou um acordo, em outubro passado, com a Amaggi, trading que tem como um dos acionistas o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi.

“É um movimento claro para levantar os recursos que eles planejam investir”, diz Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da consultoria StoneX. A Potássio do Brasil, controlada pela Brazil Potash, tem anunciado que pretende investir US$ 2,5 bilhões a partir do momento que conseguir a licença. “Esse volume de recursos para um projeto desse porte, hoje, só lá fora”, afirma o consultor.

Segundo o presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit, a companhia está avaliando “diversas alternativas” para buscar recursos. Uma das opções é o project finance, um modelo de financiamento bancário sofisticado, utilizado por companhias que têm que levantar cifras bilionárias com grandes bancos. Para conseguirem os empréstimos, essas empresas precisam ter em mãos contratos de venda antecipada com clientes renomados – como é o caso da Amaggi.

A estratégia de fazer vendas antecipadas prossegue, acredita Mello, porque o negócio com a Amaggi não é garantia suficiente para a Brazil Potash obter o volume necessário de recursos anunciado, de US$ 2,5 bilhões.

A Amaggi fechou dois contratos em outubro: um deles garante a compra de 500 mil toneladas e o outro negocia o restante do potencial da mina, de 1,9 milhão de toneladas. As 500 mil toneladas seriam da própria trading, que venderia o restante a terceiros, explicou Espeschit ao Valor na ocasião.

Mello comenta que se a “compra efetiva” da trading é de 500 mil toneladas, e o restante, apenas uma “opção de compra”, o acordo ainda não é garantia suficiente para a companhia obter todos os bilhões necessários. “Intenção de compra não é securitizável”, afirma ele.

Por essa razão, a Potássio do Brasil segue negociando o mineral. No evento que aconteceu no Rio, a empresa montou um estande – nem grande e nem muito movimentado, disse um executivo da indústria – para marcar presença.

Mas, mesmo com pouco público, propostas chegaram a importadores. “Ele [Stan Bharti] está tentando fechar contratos. Eu recebi uma proposta, pelo que entendi, de compra/venda antecipada”, contou um dono de misturadora.

Fontes dizem que, para além do desafio de buscar recursos, há de ser considerada ainda a mudança de governo no Brasil. Bharti esteve com o ex-presidente Jair Bolsonaro em abril do ano passado, em busca de ajuda para destravar o projeto em Autazes. Se o projeto ainda não caminhou, ele poderia enfrentar mais oposição no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com Marina Silva como ministra do Meio Ambiente e Sonia Guajajara, a primeira ministra indígena, nos quadros do governo federal? Parte do entrave é a demarcação de terras indígenas, por exemplo.

Para Mello, da StoneX, aparentemente, a janela para o projeto está se fechando, seja por causa do novo contexto político no Brasil, seja por uma questão de fundamentos do mercado de adubos. “Belarus está voltando ao mercado internacional e há projetos novos de potássio para começar, como o da BHP no Canadá”, cita.

Produzido por: Valor Econômico

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