Presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit frisa o papel estratégico do projeto para os negócios brasileiros
No coração da Amazônia, o bilionário Projeto Autazes, da Potássio do Brasil, promete conduzir o país à autossuficiência na produção do potássio. O insumo é indispensável para a fertilização das lavouras, que hoje abastecem 20% da população mundial. As projeções da companhia apontam que a extração do recurso, presente a uma profundidade média de 800 metros, demande investimentos de US$ 2,5 bilhões.
Ao longo de 23 anos, a empresa brasileira espera produzir 2,2 milhões de toneladas/ ano de potássio, com o apoio de investimentos estrangeiros. Esse volume mudaria a condição do país para produtor do próprio insumo. Atualmente, mais de 95% do potássio usado no Brasil vem de minas no exterior, sendo 23% de reservas na Rússia. Engenheiro de minas formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com MBA em Gestão de Negócios pela Universidade de São Paulo (USP), Adriano Espeschit conduz a Potássio do Brasil neste projeto. Atual presidente da companhia, ele possui mais de 35 anos à frente do setor minerário, tendo exercido cargos de gestão no Brasil e no exterior. Em entrevista à Mineração & Sustentabilidade, Espeschit fala das expectativas para a conclusão do licenciamento ambiental e o início das obras para o começo da produção. O executivo também responde questões sensíveis, como a proximidade do Projeto Autazes de áreas indígenas e as perspectivas em relação à política ambiental do novo governo Lula. Em outro momento, revela as estratégias da Potássio do Brasil para mudar a realidade econômica e social no Amazonas.
Confira!
Mineração & Sustentabilidade – De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil importa 85% dos fertilizantes usados na produção agrícola nacional. Como esse empreendimento ajudará a ampliar a segurança alimentar no país?
Adriano Espeschit – Esses 85% referem-se a todos os tipos de fertilizantes utilizados na produção agrícola brasileira. Quando levamos em consideração apenas o potássio, o percentual de dependência das importações supera os 95%. Contudo, somos um dos maiores produtores de alimentos de todo o planeta, sendo responsáveis por fornecer alimentos a cerca de 20% da população mundial. No entanto, poderemos chegar a 25% da produção. Além disso, temos um terço das áreas agricultáveis em todo o mundo. Esses números nos dão uma ideia do grande potencial da agricultura brasileira.
O potássio é um nutriente vital para as culturas alimentares, energéticas, fibras e pastagens, promovendo o aumento da produtividade, o controle de pragas e doenças, além de melhorar a qualidade do plantio. Portanto, é um mineral essencial para a produção agrícola, sendo o principal nutriente utilizado pelos produtores rurais do país, especialmente porque o solo brasileiro é pobre em nutrientes e necessita de complementação com os fertilizantes.
Com as minas já identificadas, o Brasil tem potencial para não apenas se tornar autossuficiente na mineração do potássio, mas também um dos maiores produtores do mundo. Com isso, seria possível suprir o mercado nacional com mais agilidade, menos impactos ao meio ambiente e menor custo de transporte. Essa iniciativa, com certeza, impactaria de forma positiva a oferta e os preços dos alimentos que chegam à mesa de cada brasileiro.
M&S – O Projeto Autazes é considerado uma iniciativa estratégica para o agronegócio brasileiro. Quais são as expectativas de produção e de vida útil da mina?
AE – Após o licenciamento ambiental, virá a fase de implantação e construção da planta industrial, que deverá durar em média quatro anos e meio. A vida útil do empreendimento, ou seja, a fase de produção do fertilizante está estimada em mais de 23 anos. Durante esse período, nossa meta é atingir a capacidade de produção de 2,2 milhões de toneladas de cloreto de potássio ao ano, ajudando a diminuir a dependência da importação deste insumo de outros países, como Canadá, Rússia, Bielorrússia, Alemanha e Israel. Com isso, iremos suprir cerca de 20% do mercado nacional.
M&S – Em termos de valores, qual a previsão de investimentos no projeto? Será capital próprio ou a empresa busca parcerias para viabilizar o projeto?
AE – Já foram investidos mais de US$ 230 milhões na descoberta e desenvolvimento do Projeto Potássio Autazes e outros US$ 2,5 bilhões serão investidos até o final da construção. A Potássio do Brasil é uma empresa privada nacional, com atuação na Região Amazônica desde 2009. Possui investidores brasileiros, ingleses, australianos e canadenses. Nossa expectativa é atrair mais investidores brasileiros à medida que o projeto é desenvolvido.
M&S – Em que estágio se encontra o projeto da Potássio do Brasil? O que ainda está pendente para a Licença de Instalação (LI) e início das obras do empreendimento?
AE – O Projeto Potássio Autazes está atualmente em fase de licenciamento ambiental junto ao órgão competente para licenciar empreendimentos no Amazonas – neste caso, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). O projeto já possui a Licença Prévia (LP) e aguarda a Licença de Instalação (LI), uma vez que a consulta ao povo indígena Mura de Autazes e Careiro da Várzea foi deflagrada desde 2019. Vale destacar, aliás, que o Povo Mura tem suas terras a cerca de oito quilômetros de distância das futuras instalações industriais do Projeto Potássio Autazes.
M&S – O desemprego no Amazonas atingiu 9,4% no fim do ano passado, 0,7 ponto percentual acima da média nacional. Qual será a contribuição do Projeto Autazes para a geração de empregos com mão de obra local? Há projeções de impacto dessa produção na economia amazonense?
AE – Sim. O Projeto Potássio Autazes vai gerar emprego e renda para o Amazonas, principalmente para a região de Autazes, onde terá seu projeto instalado, e em Careiro da Várzea. Durante a fase de construção dos poços de acesso ao minério e da planta de beneficiamento, a Potássio do Brasil deve gerar, em média, 2,6 mil empregos diretos por ano e vários indiretos na região, em outros estados brasileiros e, até mesmo, no exterior. Já na fase de operação serão criados cerca de 1,3 mil postos de trabalho diretos e 16,9 mil indiretos. A Potássio do Brasil assumiu o compromisso de ter pelo menos 80% da sua mão de obra da região. Para isso, investirá no treinamento de seus futuros colaboradores.
M&S – O empreendimento em Autazes mobilizará toda a região, revertendo o CFEM em recursos para a sociedade. Além do impacto gerado pelos royalties da mineração, quais ações a Potássio do Brasil fará para transformar a realidade local?
AE – Quando o Projeto Potássio Autazes estiver em operação será possível garantir novos recursos financeiros para Autazes, para o Amazonas e para a União, decorrentes das atividades da empresa no município. Nosso objetivo principal é gerar desenvolvimento às comunidades no entorno de nossos projetos e ao país, respeitando o meio ambiente e as pessoas.
As ações de contrapartida e mitigação socioeconômicas e ambientais estão previstas para durar além do período de vida do empreendimento, procurando dar sustentabilidade e autonomia às comunidades em relação ao empreendimento, tendo como referência os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Serão mais de 30 programas dentro dos eixos sócio-econômico-ambiental, relacionados à educação, geração de renda, meio ambiente, cultura e saberes tradicionais. Todos os programas e ações foram pensados com base nas vocações e potencialidades econômicas locais. E a Potássio do Brasil chamou – e ainda chamará – diversos parceiros para auxiliar na implementação do Projeto Autazes Sustentável.
M&S – O setor mineral tem se esforçado para diminuir os impactos da atividade em todo o processo. Como a empresa pretende mitigar os impactos do beneficiamento do produto, de forma a garantir uma mineração mais limpa e sustentável?
AE – Não compete à Potássio do Brasil emitir entendimento sobre as opiniões de outros atores sociais. O que podemos garantir é que a empresa mantém um canal aberto de diálogo com todos os segmentos da sociedade amazonense e brasileira, incluindo desde autoridades às comunidades da área de influência. Nosso intuito é esclarecer e sanar dúvidas sobre aspectos operacionais, ambientais, econômicos, sociais e de governança relacionados ao empreendimento.
M&S – O setor mineral tem se esforçado para diminuir os impactos da atividade em todo o processo. Como a empresa pretende mitigar os impactos do beneficiamento do produto, de forma a garantir uma mineração mais limpa e sustentável?
AE – O Projeto Potássio Autazes está sendo concebido em um modelo de mineração sustentável. Seguindo essa diretriz, a empresa possui políticas rígidas de ESG (ambientais, sociais e de governança), que se traduzem em ações de responsabilidade socioeconômicas e ambientais. Essas iniciativas criam normas de cuidado e defesa do meio ambiente, de relação com as comunidades, tudo isto, seguindo a legislação brasileira e as melhores práticas do mercado mundial.
A Potássio do Brasil possui em sua atuação ambiental o compromisso de fomentar o reflorestamento no município de Autazes. Pensando nisso, já distribuiu mais de 20 mil mudas para projetos ambientais da cidade. Para construir sua instalação fabril, nenhum hectare de floresta nativa será desmatado, em virtude de o espaço físico do empreendimento ficar em uma área que antes era pasto. Como é de conhecimento público, Autazes é a ‘Terra do Leite’, em função de sua vocação para criação de gado e produção de leite e seus derivados.
Outro dado importante é que, após o fim da vida útil da mina de Autazes, a Potássio do Brasil fará a retirada de todas as instalações e reflorestará a área como parte do plano de fechamento da mina.
M&S – A planta ficará localizada próxima a uma área tradicionalmente ocupada pelo povo indígena Mura. Como tem sido a receptividade dessa população ao projeto?
AE – A Potássio do Brasil tem como princípio respeitar as normas ambientais e os direitos dos povos indígenas e tradicionais. A empresa reconhece a importância da consulta do Povo Mura, que tem suas terras a cerca de oito quilômetros de distância das futuras instalações industriais do Projeto Potássio Autazes, ou seja, o empreendimento está totalmente fora de terras indígenas. Essa consulta foi deflagrada desde 2019, e pertence ao Povo Mura. Portanto, não cabe à Potássio do Brasil emitir entendimento sobre esse procedimento.
M&S – O novo governo já demonstrou ter uma visão ambiental diferente da administração anterior, o que tem gerado apreensão em relação aos prazos para licenciamento. Qual a expectativa da Potássio do Brasil em relação ao terceiro mandato do presidente Lula e à nova política mineral?
AE – O potássio é essencial para proporcionar segurança alimentar do Brasil e do mundo, combater a fome e gerar desenvolvimento socioeconômico ao Brasil. Nesse sentido, estamos trabalhando em parceria com o governo federal na elaboração e implementação do Plano de Nacional de Fertilizantes. Esse é um plano estruturante. É um plano de Estado, não um plano de governo. Por isso, estamos certos de que continuaremos caminhando em conjunto para buscarmos modelos de negócios sustentáveis para a Amazônia, de modo a atender as demandas da sociedade brasileira, utilizando todo o potencial produtivo do país e o talento da nossa gente. Nossos produtos são ‘verdes’. A Potássio do Brasil irá produzir o Potássio Verde.
Decisão nas mãos do Governo
A produção de potássio no município de Autazes, localizado a 118 quilômetros (km) de Manaus (AM), está nas mãos do presidente Lula. Enquanto o Ministério da Agricultura defende a exploração da mina, os Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas adotam cautela ao tratar do tema. A jazida da Potássio do Brasil fica a oito quilômetros do território Mura – que abriga 12 mil indígenas – e próxima às margens do Rio Madeira.
O projeto é considerado estratégico para a balança comercial brasileira. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a importação de fertilizantes custa US$ 14 bilhões ao ano (cerca de R$ 72 bilhões) ao agronegócio brasileiro. Com a viabilização do projeto, o Brasil poderá não só diminuir a dependência do cloreto de potássio importado de países como o Rússia e o Canadá, como fornecer um quarto dos alimentos produzidos em todo o planeta.
Produzido por: Mineração & Sustentabilidade